Não sei o que prende o mar
Que movimentos o encerram
Para se agitar assim
Que tormentos
Que sofrimentos tão vis
Que lhe arrancam lamentos
E o movem a dura servis
Não sei o que o tem cativo
Que enleios traz em si…
Mas há correntes que agarram o mar
Não sei o que prende o mar
Que movimentos o encerram
Para se agitar assim
Que tormentos
Que sofrimentos tão vis
Que lhe arrancam lamentos
E o movem a dura servis
Não sei o que o tem cativo
Que enleios traz em si…
Mas há correntes que agarram o mar
Do fundo do olhar um abismo
Espreita
Uma bolha de pão
Uma bola de ar
Asas de condor
Do fundo do olhar um ninho
Sem cor
De ave ferida
Um resto de alento
Num sopro de vida
Do fundo do olhar um rio
Submerso
Leito assombrado
De seixos vadios
Em água poluída
Do fundo do olhar um mar
À solta
Um barco sem leme
Uma onda esvaída
Numa praia deserta
Do fundo do olhar
Uma porta
Fechada
Debaixo da ponte correm pedras
Natureza morta
Que mata
Pousio bravo
Obstáculo de tropeço e arremesso
Oceano irracional
Pedestal sombrio
Catedral do vazio
Abismo
Penedos pontiagudos
Pedregulhos
Areias e Seixos
Calhaus
Correm pedras debaixo da ponte
Fui perguntar às rochas
O que sentem
Quando o mar as abraça
Disseram-me
Que sentem arrepios molhados
Pois que o mar é irrequieto
E lhes dá beijos salgados
Que ora as veste de espuma branca
Ora as despe enamorado
Sentem-se amadas por ele
E outras vezes odiadas
Quando ele as prende e as força
Com os seus braços pesados
Sem ter remorso nem dor
Em abraços agitados
A ceder ao seu amor